Carta resposta a uma balança falante

Post de
por Beatriz Felix

Alguém, há muitos anos,
Falou que sou pesada,
Que peso nas palavras,
Nos olhos, no querer.
Como se eu não soubesse.
Eu tenho ossos densos
(Alta ingestão de cálcio).
Afundo, nado à beça,
Não chego à outra borda
Porque chumbo não bóia.
Se um dia me exumarem
E abrirem meu caixão,
“Que horror, tinha uma âncora
Em vez de um coração!”
Por isso não me espanta
Meu medo de avião:
“Como é que o ar aguenta
Se a própria gravidade
Aumenta onde ela pisa?”
Eu valho quanto peso,
Assumo as toneladas.
E enquanto estiver viva,
Com fôlego sobrando
Pra ir sem me perder
E não voltar morrendo,
Eu puxo quem deixar.
Eu levo quem eu quero,
Abraço e desço junto
Pro fundo.

(09/11/2024)