Janela

Post de
por Beatriz Felix

Eu achei os meus poemas antigos.

Achei que tinha perdido todos. Abri cinco cadernos velhos, abri o PC antigo, abri HD externo, nada. Pensei em vasculhar meticulosamente meu nada indexado tumblr antigo e, que alívio às 11 da noite, tava tudo lá.

Pra comemorar, hoje eu não vou postar um antigo, como fiz da outra vez. Aqui vai um fresquinho. Da próxima, eu alterno pra um texto antigo de novo.

Eu avisei que não ia ter métrica regular (embora eu tenha tentado). Mas conte as sílabas, faça escansão, tente ler com o ritmo. É por sua conta e risco.


Janela

Quando você fala
Algo dentro estala
Clica
Acende uma vela
As letras na tela
Me afagam os cabelos
Me roçam o rosto
Me imergem num abraço

Sem margem e sem fundo,
Mas sei que tem fundos
Tem lados e frente
As palavras que popam
No duro papel eletrônico.

Atrás dos substantivos concretos
Significam jardins secretos
Não me atrevo a adivinhar
A cor das intenções que dão nos seus pomares
Só consigo imaginar
Que fontes, frutas, que sabiás, que sabores?

E por opaco que fosse
Aquele meu muro antigo
O estrago já foi escrito:
As palavras do muro novo são de vidro.

(03/05/2024)