Ladeiras

Post de
por Beatriz Felix

Ontem chegaram uns livros novos (usados, mas que eu nunca tinha visto) que fazem parte do meu interesse atual por ler mais mulheres que escrevem poemas. Comecei por algumas figuras do século XX, já gravadas na história da literatura humana: Wislawa Szymborska, Nobel de Literatura em 1996; Cecília Meireles, uma das mais importantes escritoras do Brasil, devidamente puxada da memória dos meus livros didáticos no ensino médio; e Elizabeth Bishop, essa ainda vou achar o livro, mas que conheci por causa de um filme sobre o romance (lésbico) que ela viveu no Brasil, “Flores Raras”.

Comecei pela Cecília, pulei pra Szymborska - as primeiras impressões que tive são assunto pra todo um outro texto. Mas, ao ler uma poesia de viagem da segunda, e ter gostado muito, lembrei que eu também (tadinha) tinha um poema de viagem (também posso sonhar, né) não publicado. Escondido num bloquinho que comprei na mesma viagem e onde comecei a escrever, numa mesa de bar em São João Del Rei - MG, enquanto meus pais não olhavam.

Algumas cenas e palavras nesse texto são específicas dessa região e das tradições cristãs relacionadas a Páscoa. Recomendo fazer a viagem, pra quem ficar curiose.


Pelas ruas escorre água,
História e lama
Pingam turistas nas vielas,
Passam devotos nos passinhos. Favelas
Coroam morros no alto de São João Del Rei.
Sou uma herege na igreja
Inspirando arnica
Pinga goteja
Ali na bica
Do bar
Queijo, cerveja,
Feijão tropeiro e chá.
Ver da marquise, se esgueirar
Do temporal
Céu de chumbo, chão de pedra,
Telhas de barro, casas de cal
Mas na viagem, um tropeço
(Me lembrou um livro do Eça):
Quando saímos do bar, na pressa,
Esqueceram-me as queijadas!

(escrito durante a Páscoa de 2016, não lembro a data)