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Tentei com força escrever algo sério
Desses versos premiados, serenos
Mas a transcendência segue um mistério
Sou muito corpo, com alma de menos
Tentei olhar e escrever o mundo
Me distraí lembrando olhos morenos
Se meu orgulho quer meu texto altivo
(Mais forma, tema, metáfora, estilo,
Mais reticente, mais reflexivo)
Meu coração quer drama e quer romance
Cartas que escrevo e que jamais envio
(Não sou de confiar em binarismos
São num só corpo, o coração e o orgulho
Dentro de mim, de nós, não tem abismos
Se o corpo é água, a mente é um mergulho)
Tentei ironizar como Szymborska
Ou discorrer sobre o número pi
Bishop criava desenhos falantes
Luas, palmeiras, traços num croqui
Cecília, era só céu e navegar
Filósofa da costa carioca
Não sei o que fazer com tanto mar
Não nado, e vou à praia quase nunca
Decassílabos? Qual é o meu problema?
Fiquei presa dois séculos atrás?
Não é assim que se faz mais poema
Se sai um, de teimosa escrevo mais
Sigo escrevendo como meio e meta
Penso que posso me dizer poeta
Mesmo com versos poucos e pequenos
Se a mente risca o papel com caneta,
As mãos, as lágrimas borram a tinta,
A voz dá rosto às letras nos cadernos,
Musa, não - música, meus próprios termos.
Mais Safo que o mais safo dos helenos,
Mulher demais, sou poeta de menos
(Talvez, por isso, mais poeta ainda).
(19/08/2024)