Vertigem
Post de
O céu me levanta e me esmaga no chão
Debaixo da fresta de um grande portão
As nuvens tão densas, extensas, pesadas,
Me mandam anúncios de raios, rajadas
O céu todo cai, na minha previsão
- o vento mais leve é o que traz furacão.
Quero correr, corro, parece inútil
Como numa esteira, pareço imóvel
Folha em branco, plano extenso, invencível
E eu?
Minúscula formiga vulnerável.
O eventual prédio de trinta andares
O eventual pé-direito celeste
Eu sei que ambos estão quase, prestes
A desabar - repetindo aos milhares
Me sinto um barco em gravidade zero
Vou à deriva, vago pelo vácuo
Os remos não tem mais força sem água
As velas não dão impulso sem vento
Com braços e pernas, cavo no nada
Procuro um abrigo, um apoio, um teto
A eterna ascenção pra fora da Terra
Parece bem pior que a pior queda
Abismo pra cima, só a asfixia
E o peso da atmosfera vazia
Fora da água, não tem mais empuxo
E enquanto bóio solta pelo espaço
O céu, talvez, quem sabe, esteja embaixo
O chão deixou de ser uma certeza
Na bússola quebrada que eu carrego
No fio partido da minha cabeça.
(25/08/2024)